quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Treta hipócrita ou hospital de loucos?



Salta aos olhos que o “Estado Islâmico”, que tanto preocupa a "comunidade internacional", não vive do ar. A sua complexa logística, o seu sofisticado equipamento bélico e de comunicação, a alimentação e municiamento das suas tropas, são caros e não podem ter origem numa Síria ou num Iraque em chamas.

É cada vez mais evidente que a placa giratória do tráfico que sustenta o ISIS se situa na Turquia que é um dos mais importantes membros da NATO. Segundo Assad*  na entrevista que concedeu a um jornal checo no dia seguinte aos atentados de Paris http://www.sana.sy/en/?p=25117,  o Qatar e a Arábia Saudita financiam o “Estado Islâmico”, que conta com outros apoios significativos designadamente da Jordânia e de alguns partidos libaneses. A França já veio reconhecer que armou os terroristas do ISIS http://g1.globo.com/mundo/siria/noticia/2014/08/franca-repassou-armas-rebeldes-sirios-ha-varios-meses.html. Israel também “dá uma ajudinha” ao ISIS atacando o exército Sírio pelos ares. É uma espécie de força aérea do “Estado Islâmico”… O curioso é que todos estes países são amigos e aliados dos EUA, UK e França, e fazem parte da tal coligação alargada liderada pelos EUA destinada a combater o ISIS.

Agora, um membro do ISIS capturado pelos serviços secretos paquistaneses, vem dizer que recebeu financiamento procedente dos EUA http://tribune.com.pk/story/828761/startling-revelations-is-operative-confesses-to-getting-funds-via-us/...

Ou esta guerra ao “Estado Islâmico” não passa duma treta hipócrita e sangrenta ou então vivemos num hospital de loucos administrado por psicopatas?
Ou ambas coisas.

Daniel D. Dias


*Sugiro vivamente a leitura integral desta entrevista.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

O esplendor da desigualdade



Os "Objetivos de Desenvolvimento do Milénio" aprovados em 2000 no âmbito da ONU por 191 países,  propunham-se até 2015

- Reduzir a pobreza extrema e a fome
- Alcançar o ensino primário universal
- Promover a igualdade de género e a autonomia das mulheres
- Reduzir a mortalidade infantil
- Melhorar a saúde materna
- Combater o VIH/SIDA, a malária e outras doenças
- Garantir a sustentabilidade ambiental
- Criar uma parceria mundial para o desenvolvimento

A estratégia adotada para o efeito assentava fundamentalmente na boa vontade, dos países, das instituições e das pessoas, naquilo que designou por “responsabilidade social”. Hoje, perante o manifesto fracasso dos resultados, é difícil não se ficar com a ideia de que o projeto não passou duma campanha de imagem promovida a nível mundial para camuflar o desbragado crescimento do neoliberalismo que já então decorria.

O fracasso destes "objetivos" dececionou e frustou muito boa gente que neles acreditou e pelos quais se bateu com abnegação. Hoje, quem está contente com os resultados, são somente os adeptos do darwinismo social que aguardam um tempo glorioso para se mostrarem em todo o seu esplendor: O esplendor da desigualdade.

Daniel D. Dias

http://www.dn.pt/inicio/economia/interior.aspx?content_id=4349980

terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Falemos de Sócrates



Há pessoas a impacientar-se por muito se falar da prisão de Sócrates. Ainda não entenderam que enterrar Sócrates - com razões válidas ou sem elas - é CRUCIAL para interiorizar a "necessidade" deste ajustamento a uma política de retrocesso e de miséria, que parece ter vindo para ficar. Esta comissão liquidatária que nos tem governado, e seus inibidos ou descarados apoiantes, precisavam desesperadamente disso. Especialmente para ganhar os muitos hesitantes que vão sendo alimentados na hipnose dos nossos “media”. Não esqueçamos o que dizia aquele senhor, muito sério, de que muitos têm saudade: em política o que parece é. O enterro de Sócrates, preparado há anos, tem o seu epílogo neste estranho caso jurídico, inédito no mundo, muito à boa maneira lusitana. Somos pioneiros, porra! A prisão de Sócrates, é pois, um feito e assim deve ser entendida. Não é de estranhar, pois, que o assunto seja muito badalado: Dá vazão aos amores e ódios de estimação, é o maior enterro de que há memória em Portugal, e... vende "jornais" como há muito não se via.

Falemos, pois, de Sócrates, carago!


Faniel D. Dias

quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Uma justiça que não para de surpreender



O Ministério Público acaba de mandar arquivar o célebre Processo dos Submarinos. Num país onde os grandes crimes económicos habitualmente prescrevem ou não dão em nada, tal facto não seria de espantar se não fosse a circunstância de, neste caso, haver comprovadamente a certeza de que HÁ MESMO criminosos. É que a justiça alemã em devido tempo condenou cidadãos alemães por TEREM SUBORNADO RESPONSÁVEIS PORTUGUESES que facilitaram (ou decidiram) a compra dos referidos submarinos.

Equívocos da justiça alemã, ou singularidades da justiça portuguesa que poderá não ser eficaz, nem sequer justa, mas que não para de surpreender?

http://visao.sapo.pt/processo-dos-submarinos-arquivado=f804817



Daniel D. Dias

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

se decido ser bom
só um simulacro de  bondade crescerá em mim
se decido meditar
nunca encontrarei a meditação
se decido ser honesto
cultivarei a hipocrisia, nunca a honestidade


amor, verdade, virtude
são aromas preciosos
que não há forma de guardar
nem técnica de cultivo;
fluem como fresca aragem
que irrompe pela casa dentro
se a porta estiver aberta


mas se decido abrir a porta
com o propósito de aceder-lhes
nada surgirá;
por mais escancarada que fique
apenas acolherei a brisa da ilusão


Daniel D. Dias

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Fogo amigo

Posso estar enganado mas palpita-me que a prisão de Sócrates vai ter o efeito duma espécie de "fogo amigo". Muitas das bojardas que lhe têm sido lançadas talvez expludam nas mãos de quem as lançou, outras, poderão atingir alguns que vivem calmamente, "desenfiados" e até agora protegidos... Nas artes da guerra, há tempo para avançar e tempo para recuar. Não perceber isso é muitas vezes fatal. Daniel D. Dias

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Brasil: Se pudesse rezava



Frantz Fanon (1925-1961), psiquiatra, pensador e combatente da luta pela libertação dos povos, que se notabilizou na descolonização da Argélia, avisou que os resultados das lutas pela liberdade e independência no mundo subdesenvolvido não seriam lineares e que poderiam mesmo ser algo controversos. Na altura, no rescaldo da II Guerra Mundial, em que se generalizavam as lutas pela independência no “terceiro mundo” – África, Ásia, América Latina -, ele apercebeu-se que a libertação dos povos submetidos à exploração colonial só seria efetiva depois de reproduzidos “in loco” os modelos de governação das potências colonizadoras. A sua experiência como psiquiatra em territórios colonizados apontava nesse sentido.

Era, para muita gente do seu tempo, algo chocante, mas estranhamente, pelos vistos, continua ainda a sê-lo para muita gente de hoje. Ele sugeria que não bastava tomar o poder para implantar um regime mais justo. Era quase inevitável que se seguisse a esse momento um período intermédio recriador de novas burguesias, nessa altura nacionais, certamente muitas delas com génese na luta anticolonial. Sem essa passagem não haveria possibilidades de êxito para implantar regimes mais avançados, socializantes, como se desejava então.

A história mostrou efetivamente que a maior parte das experiências iniciadas nos anos 50 e 60 do século passado, conduzidas frequentemente por gente idealista e abnegada ao ponto de a elas sacrificar a própria vida, deu origem a regimes muito diferentes daqueles que motivaram os seus promotores. Muitos desses regimes caíram nas mãos de novas burguesias, exploradoras, prepotentes e corruptas, por vezes tanto ou mais que as das antigas potências colonizadoras.

Todavia a tese de Fanon não era um libelo contra as lutas de libertação. Bem pelo contrário. Era um contributo para combater as impaciências “revolucionárias”.

A ideia de que se pode saltar por simples decreto, dum regime arcaico, para outro avançado, expurgando todos os vícios e males do passado, é uma ideia antiga que continua a ser propalada, especialmente por aqueles que não fazem intenção de mudar nada, porque, lá no fundo, receiam ou se opõem à mudança. Nenhuma mudança se faz sem sobressaltos, sem deceções, sem erros e sem contemporizações com situações abstrusas. Ser capaz de suportar a frustração, sem se conformar com ela mas sem nunca desistir de mudar, é um dom indispensável para levar de vencida qualquer projeto de mudança. Alguém dizia: temos de ganhar a guerra com os soldados de que dispomos. Quem diz soldados, diz povo, diz políticos, diz partidos, diz meios de comunicação social, diz cultura, diz sociedade, com todas as suas qualidades, fraquezas, defeitos, que jamais desaparecem por artes mágicas…


No Brasil estamos a assistir a uma iminente demonstração de que o retrocesso pode ocorrer em resultado da exploração destes fenómenos de impaciência, de inconformismo, que têm alguma razão objetiva, mas que são induzidos e empolados no seio da opinião pública, por propagandistas agitadores, bem treinados. É sabido que nenhum país do mundo eliminou em dez anos as desigualdades sociais, ou a miséria, e muito menos a corrupção. No entanto a eleição de Lula – antecessor de Dilma – representou, de facto, um corte com o passado e trouxe significativas mudanças ao Brasil. Em poucos mais duma década dezenas de milhões de pessoas saíram da pobreza extrema, que era crónica no Brasil, e o país passou a registar a mais baixa taxa de desemprego de sempre, facto significativo mesmo em termos internacionais. No plano mundial, pela primeira vez o Brasil assumiu-se por direito próprio como potência global, capaz de dar corpo a uma alternativa ao modelo de globalização dominante.

Estes sinais, por si só, justificariam apostar na continuidade da atual presidente. Não compreender que a supressão da corrupção não ocorrerá de um dia para o outro e que o excesso de expectativas, cultivado por quem, quando no poder, as negou sistematicamente, é algo criminoso. Decorre a clássica ligação do “purismo” esquerdista (de Marina Silva) que explora as fragilidades e contradições do partido (ou sistema de partidos) que tem gerido o Brasil, e os interesses oportunistas (candidato Aécio Neves) que representa as forças do retrocesso.

Se Dilma perder a favor de Aécio, não vai ser só a maioria da população do Brasil que vai perder. Vai perder também toda a América Latina, especialmente os seus países mais progressistas.  Mas, duma forma geral, todo o mundo perderá. É duvidoso que com Aécio no poder o Brasil concretize o projetado Banco de Desenvolvimento dos BRICS, com sede no Brasil, concorrente do FMI e do Banco Mundial. Provavelmente os BRICS passarão a RICS e o tal banco vai parar à Índia…

Quem ganhará com a derrota de Dilma? Para além duma certa burguesia nacional, os EUA, pouco confortáveis com uma sensível perda de influência ocorrida durante este consulado petista, poderão obter alguma folga e retardar a sua imparável crise, esgaravatando um pouco mais no seu antigo quintal sul americano. É porém duvidoso que a sua amiga UE ganhe alguma coisa com isso. Bem pelo contrário.


Não sou crente, como a Marina é, mas tenho pena. Se o fosse rezava para que, com todos os seus defeitos e contradições, o PT continuasse no poder por mais uns anitos, pelo menos… Para bem de todos. Até das muitas Marinas que há por aí.


Daniel D. Dias

domingo, 21 de setembro de 2014

Benefício da dúvida


Vivemos um tempo espantoso, de imensa criatividade, de descomunal conhecimento. Podemos afirmar, sem margem para erro, que 99,999999% dos sábios da história da humanidade -, desde a pré-história mais remota, aos luminosos dias de hoje, da Antiguidade Clássica, à Idade Moderna, do tempo de Aristóteles ao tempo de Galileu, - estão todos vivos! Não é fantástico sermos contemporâneos da esmagadora maioria dos sábios de todos os tempos?

Esta constatação torna desconcertante saber que apenas uma pequena parte deste enorme potencial tenha vindo a ser usado para resolver os problemas humanos. Seria espectável que tanto conhecimento acumulado, da natureza e do próprio ser humano, fosse prioritariamente aplicado no combate às doenças, na compreensão e melhoria das relações entre pessoas e povos, e, duma forma geral na busca da felicidade.

Mas não. O melhor da ciência, é, antes de mais, aplicado na capacidade de nos matarmos uns aos outros; o maior conhecimento que adquirimos do nosso notável cérebro, é, de imediato, aplicado em técnicas de vendas e no exercício de nos enganarmos uns aos outros.

Dá vontade de concluir que a inteligência é diretamente proporcional à estupidez,  mas não quero acreditar nisso. Prefiro conceder o benefício da dúvida e pensar que o conhecimento acumulado ainda não se tornou sabedoria, ou que ainda pensamos muito com a cabeça e pouco com o coração.

Daniel D. Dias

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Novo desporto radical



Quando nos finais do século XX o filósofo Roger Garaudy  -, resistente anti nazi, destacado militante marxista e membro do Partido Comunista Francês, (do qual acabaria expulso aquando da invasão da Checoslováquia pelas tropas da União Soviética) -, declarou aderir ao islamismo numa atitude de provocação intelectual a um ocidente que ele considerava decadente e corrupto, não era certamente o islamismo dos membros do chamado Estado Islâmico ou da Al-Qaeda que tinha em mente.

As grandes religiões sempre foram pretexto para ações de todos os tipos, das mais nobres às mais retrógradas, e o Islão não é exceção. Quando na Baixa Idade Média o poder dominado pela cristandade queimava nas fogueiras do obscurantismo a sabedoria da antiguidade clássica, os intelectuais da Idade de Ouro do Islão, preservavam esses livros e promoviam as ciências e as artes. Se não fossem eles é provável que Aristóteles, Platão, Euclides, Demócrito, não fossem hoje conhecidos no mundo. As forças (ditas) islâmicas que há poucos anos dinamitaram as milenares estátuas de Buda, no Afeganistão, obviamente nada têm a ver com as dos seus antepassados dessa Idade de Ouro do Islão.

A perceção de que as religiões podem ser usadas para o bem ou para o mal, que através dos mecanismos da fé se podem manipular multidões, especialmente em períodos de crise, levou a que a maioria dos promotores da democracia moderna advogassem o laicismo, i.e., estados onde as religiões fossem livres mas se subordinassem ao poder secular.

Na era Reagan os EUA promoveram o extremismo religioso para minar o que consideravam ser a expansão soviética. Nessa linha criaram ou ajudaram a criar a Al-Qaeda e outras organizações extremistas. Foi um terrível erro que o mundo agora paga caro. A ideia que subjazia aos promotores dessa modalidade de luta política era a de que se podia gerar monstros para combater o inimigo, pois, quando fosse necessário, seria fácil eliminá-los. A realidade mostrou que as feras treinadas para combate não reconhecem os donos. Mas, apesar das crescentes evidências e ameaças, esses jogos de guerra continuam a ser alimentados. Na Líbia – cujo Índice de Desenvolvimento Humano, atribuído pela ONU, era o maior do continente africano e superior ao de muitos países europeus, antes da queda de Kadhafi – a intervenção da NATO apoiando mercenários, jihadistas, membros da Al-Qaeda, de várias proveniências, mergulhou o país na ingovernabilidade e no caos. Milhões de pessoas procuram agora refúgio nos países vizinhos ou na Europa. Muitas acabam morrendo no Mediterrâneo ou às mãos de fanáticos “religiosos”, sedentos de poder.  O Iraque, que regista milhões de refugiados e centenas de milhares de mortos após a intervenção orquestrada por Bush e seus aliados, o caos instalado dá origem a um anacrónico Estado Islâmico, que cresce em grande parte graças ao apoio dado aos rebeldes anti Bashar al-Assad apoiados pelos EUA e CE, em especial, o UK e a França. Este apoio dado conscientemente a militantes da Al-Qaeda, vindos da Líbia, da Jordânia, do Kosovo, e de outros países, designadamente da CE, Austrália e EUA, sob o pretexto duma Primavera Árabe, libertadora. Sabe-se agora, que esta Primavera Árabe, aparentemente espontânea, foi liderada e promovida por John McCain, candidato republicano às últimas eleições presidenciais americanas, que já havia contribuído para a destruição da Jugoslávia, apoiando movimentos radicais, sob um pretexto semelhante.

O extremismo baseado em ideias “religiosas” é algo antigo que parece absurdo ainda proliferar e crescer numa época de conhecimento e informação como a nossa. Mais: Dá ideia que tal “métier” se está a transformar numa espécie de novo desporto radical que atrai uma juventude - desencantada, frustrada, desempregada, alienada, revoltada -, gerada nesta sociedade dita civilizada e de consumo, que procura no holiganismo e no terrorismo um sentido para a existência.

Daniel D. Dias



sábado, 23 de agosto de 2014

Lerdaços



“É preciso escolher Israel – tanto pela causa de Israel como pela nossa.
O resto é cobardia, aldrabice, desprezo e estupidez.”

Miguel Esteves Cardoso  - Público - 20/08/2014
(http://www.publico.pt/mundo/noticia/escolher-israel-1666913)


Um néscio, por mais talentoso, letrado, presumido, acalentado, untuoso, extravagante, mimado, protegido, premiado, poliglota, conhecido, publicitado, editado, favorecido, bafejado, convencido, abençoado, agraciado, gracioso, irónico, verrinoso, exótico, cavernoso, lunático, verboso, prolixo, argumentativo, que seja; quer viva no parnaso, no nirvana, em Cascais, na Quinta do Conde, numa corte de aduladores, na Califórnia, em Cardiff, na Porcalhota, num lupanar, ou em Malavado; disponha duma corte de tias apreciadoras das suas graçolas ou dos seus arroubes românticos, faça parte dum clube com mais fãs que o de Tony Carreira ou que  tenha cinquenta mil amigos e um milhão de likes no Facebook ; continuará sempre a ser um NÉSCIO, rudimentar, boçal como a maioria dos néscios. Porém alguns, que são retrógrados e reacionários por snobismo e cagança, prefiro designá-los por lerdaços. LERDAÇOS soa melhor. Ponto.

Daniel D. Dias