domingo, 24 de novembro de 2013
Tigres de papel
A recente denúncia do acordo de associação com a UE, por parte da Ucrânia - que estava praticamente finalizado e pronto a assinar -, foi um balde de água gelada sobre arrogância da atual elite que conduz os destinos desta Europa (des)unida. Bruxelas e em particular a renascida Alemanha, já dava como garantido que a Ucrânia, influenciada pelas cliques pró ocidentais que nela floresceram – e enriqueceram – após a desagregação da União Soviética, seguiria o caminho de outros países, como a Polónia, a Hungria ou a Bulgária, que a troco de promessas de investimento só cumpridas muito parcialmente, abdicaram de parte substancial da sua soberania e puseram à disposição da UE, recursos básicos a preço de saldo, e, sobretudo, uma mão de obra barata, com formação e disciplinada, bem ao gosto duma Alemanha, sôfrega, muito (pouco) democrata (e) cristã.
Mas a UE, fiada numa supremacia que cada vez mais lhe escasseia, não se contentou com as cedências que a Ucrânia já lhe tinha feito, algumas das quais muito incomodativas para a vizinha Rússia, e continuou a fazer-lhe exigências desnecessárias e humilhantes como foi o caso do ultimato que lançou para libertar a controversa ex primeira-ministra Júlia Timochenko, acusada e condenada pelos tribunais desse país por abuso de poder. Foi pressão demasiada que, finalmente, fez a Ucrânia perceber que a UE pouco oferecia em contrapartida do que exigia e o que tinha em vista era mais por em causa o seu relacionamento com a Federação Russa do que estabelecer um acordo de livre comércio. E fez o que a UE nunca admitiu que fosse possível fazer: bateu com a porta e recusou a sua “ajuda”.
O choque foi grande a ponto das chancelarias do eixo franco-germânico e seus aliados próximos estarem agora a rever – parece com carater de urgência - toda a estratégia do já há muito planeado “cerco” à Federação Russa... Esta reação destrambelhada, mostra afinal que a UE tem um comportamento de tigre de papel, como aliás já tinha ficado demonstrado com o volte face que se seguiu ao ultimato feito à Síria na “crise das armas químicas”. Na altura, surpreendentemente, a Rússia propôs o desmantelamento do arsenal químico da Síria, o que foi aceite (com alívio) pelos EUA. E logo o balofo presidente francês e o presunçoso “premier” britânico – atuais mastins da UE - engoliram a farronca e viraram a agulha para a “ameaça” nuclear iraniana. Uma clara manifestação de fragilidade, típica de tigres de papel.
Se de facto a UE não passar do tigre de papel que evidencia ser, então os chamados países periféricos do sul, persistentemente subalternizados e humilhados pelo seu núcleo duro franco-germânico, têm ao seu dispor uma carta de alforria que poderão jogar a qualquer momento. Mas é preciso que reúnam duas condições: a primeira que se livrem dos “gauleiter’s” que exercem atualmente o poder nos seus países antes que eles desmantelem por completo a soberania que lhes resta. A segunda, que os novos governos sejam hábeis e firmes no manejo dessa carta. Trata-se de negociar condições - não já de resgates de dívidas soberanas ou de qualquer outro tipo de assistência -, mas da permanência na zona Euro. A UE, e particularmente a zona Euro, é, pelo menos formalmente, um espaço de solidariedade institucional. É precisamente essa solidariedade que deve haver coragem de exigir. É pouco provável que a Alemanha – e não só - esteja interessada em arriscar o insucesso do Euro… Quem pega nesta deixa?
Daniel D. Dias
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