segunda-feira, 12 de maio de 2014

Votar entre sapos e cobras



Estão à vista eleições. Para já, as Europeias, que, talvez pela primeira vez, podem ter importância crucial para a Europa e para Portugal. Mas também as legislativas do próximo ano em Portugal - que poderiam eventualmente ser antecipadas, se as Europeias corressem muito mal aos energúmenos da comissão liquidatária que nos “governa”  -, o que até talvez fosse viável se o Zé não se deixasse baralhar e confundir pela algazarra que andam a fazer à sua volta e votasse bem… Percebe-se bem o frenesim que perpassa nos “media”, que, como bons reprodutores da “voz do dono”, vão aumentando a confusão, baralhando, dividindo, provocando hesitação, fazendo interiorizar que a crise era algo inevitável (e não o resultado duma política delibera e criminosa, duma agenda de retrocesso), que vivemos a cima das nossas possibilidades, que fomos salvos da bancarrota, que agora vamos começar a crescer, que os políticos são todos iguais, etc., etc….

Reina a confusão mas duma coisa tenho a certeza: na atual situação há três tipos de eleitores -dois para quem a decisão é fácil e um para quem a decisão é muito difícil. É para este último – o eleitor duvidoso, hesitante, que tenderá a abster-se ou a votar precipitadamente se lhe persistirem as dúvidas - que dedico este post.  Não é para o aconselhar em quem votar, mas para lhe sugerir uma forma – a que adotei para mim próprio – de o ajudar a vencer as suas legítimas hesitações.

Vejamos então:

Tipologia dos eleitores e o que se espera que façam

1-
Quem está de acordo com a situação atual, que acredita nas promessas da coligação que tem (des)governado o país nos últimos anos, ou que tem vantagens na atual situação.
Não há muito que saber: Estes eleitores votam na coligação que está no poder. Só se forem parvos é que o não farão… 

2-
Quem segue um cânone político, ou a orientação dum partido, sem se preocupar demasiado com a eficácia do seu voto; quem se preocupa mais em ser fiel a uma dada linha política do que aos resultados eleitorais porque acredita que esse é o procedimento correto.
Obviamente, coerentemente com os seus critérios ideológicos, estes eleitores devem votar no seu partido ou da forma que o seu partido indicar.

3-
Quem hesita em quem votar porque descrê nos partidos (da oposição) ou nos novos partidos, ou porque descrê nos políticos em geral, mas que, apesar disso, pretende ser interventivo e acha que é imperativo esta maioria de energúmenos ser afastada do poder e castigada nas urnas.

A situação destes eleitores é mais delicada. Deverão fazer uma escolha o mais racional possível - evitando opções emocionais – que tenha efeitos concretos claramente previsíveis. Devem pois procurar VOTAR ÚTIL e rejeitar liminarmente a abstenção ou o voto em branco pois constituem certamente o grupo mais numeroso de eleitores.

Mas como proceder para determinar uma escolha racional no controverso quadro político partidário atual que é a razão das suas dúvidas e hesitações?
Critérios emocionais são perigosos: Um candidato “bom” apoiado num partido com fraca implantação pode dispersar votos, acabar por reforçar as posições da direita e não chegar sequer a ser eleito. Mesmo critérios mais racionais são difíceis de aplicar no atual quadro político.

Obviando esta questão, optei por um método pouco ortodoxo mas que a meu ver conduz à melhor escolha – ou, melhor dito, conduz à escolha mais conveniente. Sigo o princípio maoista - “defende o que o inimigo ataca; ataca o que o inimigo defende”.

Assim, observo pelos “media” qual o partido/candidato que é mais atacado pela coligação que está no poder. Em termos europeus faço o mesmo: observo qual é o grupo político que o grupo de Merkel mais ataca.

Depois, a menos que surjam factores extraordinários que obriguem a rever toda a minha estratégia, o meu voto irá para o partido (candidato ou família política) que foi objeto de maior hostilidade por parte desta direita que está no poder, quer em Portugal quer na Europa - Comissão Europeia.  (Eu posso enganar-me sobre o que devo ou não devo escolher mas os meus adversários, esses, de certeza, não se enganam. Quem eles mais atacam é quem eles mais temem.)

E pronto. No final provavelmente irei engolir algum sapo mas certamente não serei engolido por nenhuma cobra. Veremos. Seja qual for o resultado destas eleições sei que vamos ter muito trabalho pela frente e que continuará a haver muita coisa para mudar.


Daniel D. Dias

Mais uma denúncia


Confirmando o que já era sabido - que a crise das dívidas soberanas era antes uma crise dos bancos e da sua vocação para a especulação e ganância - Philippe Legrain, que foi conselheiro económico de Durão Barroso, revela um pouco mais sobre esta crise numa entrevista dada ao Público   http://www.publico.pt/economia/noticia/ajudas-a-portugal-e-grecia-foram-resgates-aos-bancos-alemaes-1635405.  É uma clara denúncia  da falsidade da afirmação de que temos vivido acima das nossas possibilidades e uma demonstração, insuspeita, da grande hipocrisia dos que agora defendem que salvaram o país da bancarrota:
“As pessoas elogiam muito o sucesso do programa português, mas basta olhar para as previsões iniciais para a dívida pública e ver a situação da dívida agora para se perceber que não é, de modo algum, um programa bem sucedido. Portugal está mais endividado que antes por causa do programa, e a dívida privada não caiu. Portugal está mesmo em pior estado do que estava no início do programa.
E explica:
“…os Governos puseram os interesses dos bancos à frente dos interesses dos cidadãos. Por várias razões. Em alguns casos, porque os Governos identificam os bancos como campeões nacionais bons para os países. Em outros casos tem a ver com ligações financeiras. Muitos políticos seniores ou trabalharam para bancos antes, ou esperam trabalhar para bancos depois. Há uma relação quase corrupta entre bancos e políticos.” 

A não perder.


Daniel D. Dias

domingo, 11 de maio de 2014

Maré de poetas


Agora entendo os poetas
que são afinal os poetas de sempre -
gente que se atreve a olhar o real
esse real quotidiano, sem importância,
quase sempre trivial
que está por ai, displicente
sem pose, nem espectativa
a moldar as nossas vidas

por aí,
no labirinto das ruas,
povoadas ou sinistramente vazias
nos cantos obscuros das gavetas desarrumadas
na pulp fiction dos quiosques decadentes
no cartão debutado esquecido no bolso
na imagem desfocada da memória
desse quase momento
no rímel escorrido na deceção da noite…

por aí,
nesse mundo que ainda vibra lá fora,
vivo e brilhante
por vezes claro e até sorridente
mas que se gasta e agasta
na poeira do egoísmo cinzento
e se afunda na grande vala comum
que a humanidade
esgravata para si própria

Sim, poetas,
qualquer um o pode ser
desde que tenha a verve suficiente
e que não a deixe amarrada
a ditos de chiste,
a cânones e bibliotecas
ou a qualquer pedaço de mármore
desses que enfeitam jardins

qualquer um
desses que não tentam ser espontâneos
quando lhe pesam mais
os conceitos empolgantes
que a vontade indómita, subversiva
de espreitar pelo buraco da fechadura

poetas, sim,
gente de insights inesperados
observadora de devaneios improváveis
de assincronismos ilógicos
que reage, alegre, triste,
ou que não reage,
mas que sempre vive tudo, com surpresa
que se apercebe sempre da nudez do rei


Agora reparo
que há multidões desses poetas por aí,
que vagueiam incógnitos,
incógnitos até de si próprios

alguns atrevem-se e revelam-se,
rebelam-se,
mas a maioria segue,
vagueia insegura, hesitante,
analfabeta ou lunaticamente erudita
desajustada, incompreendida
mas sempre, sempre
sequiosa  por realidade
pornograficamente obcecada pela verdade

essa maré de poetas que vive por aí
improvisando a vida
distorcendo a sua natureza
desbaratando o seu talento
nas obras do poder pastiche dos que mandam no mundo
se vencesse a sua inércia
se acordasse do seu torpor
se não gastasse a sua energia
a dourar a vida miserável
que rói os nossos dias

poderia num ápice
derrubar os mitos que nos amarram
e reinventar este mundo onde tudo está pronto para ser reinventado
e salvar-nos da ameaça que constituímos para nós próprios

ah, se acordassem os poetas que vivem entre nós
se a letargia que os tolhe cessasse por um tempo
o mundo tornar-se-ia num lar, senão seguro, pelo menos habitável  
e felicidade deixaria de ser o nome duma mera expectativa


Daniel D. Dias

sexta-feira, 2 de maio de 2014

Helicópteros



O desmantelamento da Jugoslávia começou em 1991, na Eslovénia,  com o derrube de dois helicópteros  da força aérea jugoslava pelos separatistas eslovenos que recebiam apoio e eram incentivados na sua ação pela Alemanha democrata cristã (CDU) do Chanceler Helmut Kohl. Tudo isso ocorreu apesar do compromisso formal da Comunidade Europeia e dos EUA de preservarem a unidade da República Federativa da Jugoslávia, pós Tito.

A independência da Eslovénia ocorreu pouco tempo depois deste incidente e foi prontamente reconhecida (1992) pelos EUA e CE. Inevitavelmente, como um castelo de cartas, a esta independência, seguiu-se a mais sangrenta guerra ocorrida na Europa depois da II Guerra Mundial que matou mais de 250 mil pessoas.  A Jugoslávia, dos partisans,  que se libertou do nazismo pelos seus próprios meios, que bateu o pé a Stalin,  foi assim riscada do mapa em pouco tempo.

Ontem, 1 de maio de 2014, no leste da Ucrânia “separatistas pro Rússia” derrubaram também dois helicópteros da força aérea ucraniana. Que consequências vão ter estes atos, ainda não se sabe, mas não parece que augurem nada de bom. Porém, desta vez, a Alemanha democrata cristã, agora da Chanceler Merkel, parece não estar de acordo nem apoiar.

Conclusão: Em matéria de desmantelamento de países, para a EU e EUA, parece haver separatismos bons e separatismos maus…

Daniel D. Dias

quarta-feira, 26 de março de 2014

Tempo de impunidade, ou a problemática do "roubar pouco" e do "roubar muito"



Paula Teixeira da Cruz, a putativa ministra da Justiça do atual governo, reafirmou recentemente, de forma categórica, que “o tempo de impunidade acabou!” porque, garantiu, “seja quem for ninguém está acima da lei”  http://videos.sapo.pt/8CrqM9VaZ7ZriNZzUZqJ . Ora, para quem ainda tenha dúvidas, aqui fica a confirmação do que a ministra afirmou, como o título do Jornal de Notícias sugere: "Padeiro condenado a pagar 315 euros por roubar 70 cêntimos"  http://www.jn.pt/PaginaInicial/Seguranca/Interior.aspx?content_id=3774259. Bem entendido, a prescrição de todas as condenações do banqueiro Jardim Gonçalves recém confirmada pela justiça portuguesa http://www.publico.pt/economia/noticia/tribunal-da-razao-a-jardim-goncalves-e-deixa-cair-condenacao-do-bdp-1627422  – e que envolve o perdão de uma multa de um milhão de euros - http://www.asjp.pt/2014/03/12/juizes-investigam-perdao-de-milhao-a-jardim-goncalves/ está, naturalmente, - sempre esteve - fora deste contexto “de impunidade” referido pela ministra…

Para quem não tivesse entendido as razões deste facto aqui fica, como achega, um excerto dum sermão do Padre António Vieira, proferido há 359 anos.

“O roubar pouco é culpa, o roubar muito é grandeza; o roubar com pouco poder faz os piratas, o roubar com muito, os Alexandres.
(…) os ladrões que mais própria e dignamente merecem este título são aqueles a quem os reis encomendam os exércitos e legiões, ou o governo das províncias, ou a administração das cidades, os quais já com manha, já com força, roubam e despojam os povos. Os outros ladrões roubam um homem: estes roubam cidades e reinos; os outros furtam debaixo do seu risco: estes sem temor, nem perigo; os outros, se furtam, são enforcados: estes furtam e enforcam. Diógenes, que tudo via com mais aguda vista que os outros homens, viu que uma grande tropa de varas e ministros de justiça levavam a enforcar uns ladrões, e começou a bradar: Lá vão os ladrões grandes a enforcar os pequenos.“
(In, Padre António Vieira, “Sermão do Bom Ladrão”- 1655)


Daniel D. Dias

sexta-feira, 21 de março de 2014

todas as flores são eternas




chegamos sós
mas construímos a ideia de que estamos acompanhados
graças à artimanha da natureza que nos arredonda as faces
torna graciosos os nossos gestos
nos transforma, por um tempo, em belas flores

depois, quando entardece, os ossos esquinam-se e endurecem
o brilho do olhar tomba sob nuvens de negras rugas
e as belas pétalas decaem em estranhas formas, que o vento arrasta


na penumbra, já poucos nos veem
e os que o fazem apenas tateiam a  memória que sobra
da vaga ideia do que pensam termos sido
ou de eventuais vestígios que largámos pela paisagem


estamos sós,
vivemos e morremos sós:
tem um custo gozar o privilégio de apreciar
as belas flores que ajudamos a dar vida…
mas não é triste, nem alegre
é apenas assim
o fazer parte da eterna paisagem mutante


mas em cada primavera
o vulto das flores caídas, os seus remotos aromas,
animam-se nos bicos das aves, nos  rebentos das velhas árvores
nos traços de cada flor...

de que podemos queixar-nos?
mesmo que não saibamos, mesmo que não demos por isso
todas as flores são eternas


Daniel D. Dia

terça-feira, 18 de março de 2014

A UE não é território ideal para qualquer utopia



Medeiros Ferreira faleceu hoje mas como se costuma dizer morre o homem e fica a obra. Não me lembro de melhor forma de homenageá-lo nesta altura, do que recordar o que suponho ser o seu último livro intitulado “Não há mapa cor-de-rosa – A história (mal)dita da integração europeia”, editado pelas Edições 70, em 2013. Este é um dos documentos mais lúcidos e esclarecedores sobre a génese da União Europeia que já tive ocasião de ler. Através dele podemos entender as razões que subjazem ao chamado projeto europeu, que teve tudo menos razões altruístas para ser implementado. Lendo livro fica claro que a UE foi um estratagema conduzido pela “direita civilizada” – a democracia (dita) cristã, apoiada pela única potência mundial que lucrou com a guerra, os EUA, para relançar a Alemanha como testa de ponte da economia ocidental. O objetivo era construir uma barreira no coração da Europa ao hipotético avanço – ou contágio - do que se entendia ser na altura o modelo socialista, algo que, em rigor ninguém sabia o que era, excepto que tinha tido a força suficiente para derrubar Hitler e ganhar a guerra.

Diz Medeiros Ferreira:

“Enquanto durou o conflito Leste-Oeste, a divisão da Alemanha e a existência de regimes de democracia de influência soviética, a Comunidade Europeia caprichou em dar respostas positivas aos desejos de desenvolvimento e de modernização dos países chamados da ‘coesão’: Irlanda, Grécia, Portugal e Espanha, por ordem de chegada entre 1973 e 1986. Quando acabou a noção de ‘Europa Ocidental’ e se operou a reunificação alemã, assim como o alargamento a Leste, começou a emergir o egoísmo das lógicas nacionais. Entre 1992 e 2001 passou-se num ápice da miragem da ‘Europa dos Cidadãos’ para a realidade da ‘Europa das Chancelarias’.

(…) Não há maneira de escamotear o diferente comportamento da EU antes e depois do fim da guerra fria. Mesmo a defesa e promoção dos direitos humanos no espaço de liberdade e justiça sofreu uma subalternização nítida. O facto de a EU não subscrever a Convenção Europeia dos Direitos Humanos do Conselho da Europa foi disso sintoma e prova.”

E no final, previne:

“O erro inicial foi o da fuga à vontade dos povos e ao escrutínio democrático a nível europeu. Disse-o Mendés France com clareza no Parlamento francês em Janeiro de 1957. O chamado ‘método Jean Monnet’ acabaria por criar um hiato entre a Europa dos oligarcas e dos burocratas e a Europa dos Cidadãos para surgir agora a Europa das Chancelarias. Ora, a Europa das Chancelarias não é um passo em frente em relação à história do continente. Nem na sua forma de eixo, ou directório, e muito menos sob qualquer conduta unilateral. Sendo certo que a UE não é território ideal para qualquer utopia.”

“Não há mapa cor-de-rosa – A história (mal)dita da integração europeia”, de José Medeiros Ferreira, esclarece muitos pontos obscuros desta UE que atravessa uma fase crítica da sua existência. Para conhecer melhor a Europa e compreender a atual crise mas também como forma de homenagear o político e pensador Medeiros Ferreira, sugiro a leitura urgente deste livro.

Daniel D. Dias

quarta-feira, 12 de março de 2014

Consensos



Cavaco fala da necessidade de um consenso para vencer a crise   http://www.publico.pt/politica/noticia/pr-insiste-nas-vantagens-de-um-entendimento-politico-para-o-postroika-1627777 e agora, inesperadamente, como diz Bagão Felix, aí surge um  http://expresso.sapo.pt/manifesto-de-70-personalidades-apela-a-reestruturacao-da-divida=f860221.  E é um consenso a sério, transversal, como há muito não se via na sociedade portuguesa. Cavaco vai ficar contente? Claro que não, pois não é este tipo de consenso a que Cavaco chama “consenso”. Cavaco (economista) tem a mesma visão que Salazar (economista) tinha para Portugal. Um Portugal, pobre, rústico, (Cavaco elogia o regresso aos campos…), bem comportado, de boina na mão. Um Portugal de “consensos” obtidos em câmaras corporativas onde, se necessário à força, se “harmonizam” os interesses dos ricos e dos pobres.

Ou muito me engano ou Cavaco irá contestar este consenso por achá-lo "inoportuno", como lhe chamou o Gelatina Estridente, por exemplo, ou argumentando com uma qualquer roteirisse daquelas a que já nos habituou. Ou então, pura e simplesmente, vai ignorá-lo. Este tipo de consensos é algo muito pouco agradável para Cavaco. É que fica completamente à vista que o verdadeiro chefe deste (des)governo, não é o gauleiter Passos, mas o próprio Cavaco.


Daniel D. Dias

segunda-feira, 10 de março de 2014

Ucrânia



A ideia de que na Ucrânia se combate pela liberdade contra a opressão já era suspeita à partida, quando começaram as concentrações em Kiev. Era no mínimo estranho que toda a direita e extrema-direita europeias fizessem um coro unânime e histérico, laudatório dos manifestantes e condenatório dos corruptos oligarcas ucranianos. É bom que se assinale, que esses oligarcas, cavalheiros de indústria, verdadeiros criminosos que enriqueceram com o desmantelamento do antigo Bloco de Leste, têm o seu dinheirinho bem guardado na EU e nos EUA, onde dispõem de tratamento VIP. Personagens como Barroso, Hollande,  Angela Merkel, Cameron, McCain, Obama, Rasmussen, Catherine Ashton, Donald Tusk, Rajoy, só para citar alguns, aliados e coniventes em recentes ingerências (Iraque, Afeganistão, Paquistão, Líbia, Síria, por exemplo), que outro sinal poderiam dar que não fosse o de estarem a apoiar algo muito duvidoso?

Mas o aparato dos “media”, a manipulação da informação, os agentes e comentadores de serviço que dominam o “status quo” na EU e EUA – citados permanentemente como “comunidade internacional!” -, fizeram crer a muito boa gente que se tratava duma verdadeira revolução, pela liberdade, contra o opressor russo.

A procissão ainda vai no adro mas já há indícios claros de que está muito mais em jogo do que a luta de um povo pela sua independência e liberdade. O que à partida parece estar a acontecer é o aproveitamento de descontentamento legítimo dum povo para relançar os avanços geoestratégicos a leste há muito pretendidos pela OTAN – a única organização militar que sobreviveu à Guerra Fria e que não para de expandir-se (onde lá vai o Atlântico Norte). Não deixa de ser curioso que resquícios dessa Guerra Fria estejam agora a ser ressuscitados para defender ou para atacar a Rússia… como se da União Soviética se tratasse.
 
O artigo de Daniel Oliveira publicado no Expresso online de hoje (10/03/14) http://expresso.sapo.pt/apresento-vos-os-defensores-dos-valores-europeus-na-ucrania=f860020 dá um contributo importante para entender o imbróglio em que esta União Europeia nos está a meter a todos. De igual modo o Jornal I, também de hoje, http://www.ionline.pt/artigos/mundo/kiev-acusada-contratar-mercenrios-da-blackwater  revela que mercenários duma famosa empresa de segurança, sediada nos EUA, foram e continuam a ser utilizados para intervir na Ucrânia.

As coisas raramente são o que parecem e quase nunca são tão simples. Mas uma coisa é certa: a UE, que ainda está mergulhada numa crise, embarcou em mais uma aventura de desfecho imprevisível.

Daniel D. Dias

Nota: Sobre a empresa de segurança citada – Blackwater, agora também chamada Academi -, vide http://blackwaterprotection.com/ , http://www.motherjones.com/mojo/2009/08/blackwater-too-big-fail, http://academi.com/, http://narcosphere.narconews.com/notebook/erin-rosa/2010/08/blackwater-provided-unauthorized-training-colombia

sexta-feira, 7 de março de 2014

Cão de Pavlov



A maioria das pessoas acantona-se nas suas ideias e rejeita as dos outros a não ser que esteja previamente disponível para concordar com elas. É por isso que é tão pouco produtivo, tão dececionante, gastar tempo a esgrimir argumentos. As pessoas estão tão carentes, tão desejosas de atenção, que não procuram esclarecimento. Procuram companhia, esmolam compreensão. Paradoxalmente estamos a tornar-nos profundamente ignorantes e mais manipuláveis do que nunca graças aos avanços da ciência e da tecnologia que compramos e promovemos entusiasticamente. Tornámo-nos mercadorias e somos objetos de marketing com o qual voluntariamente colaboramos, mesmo sabendo que somos usados. Que importa? O que é preciso é que não fiquemos sozinhos, que em alguma parte do universo alguém nos dê razão… O cão de Pavlov pode continuar a salivar e uivar de dor, mas quem está condicionado é afinal o próprio Pavlov.


Daniel D. Dias