domingo, 29 de março de 2015

Quem tem medo do lobo mau?



“Uma coligação de movimentos rebeldes e grupos próximos da Al-Qaeda conquistou a cidade de Idlib, no nordeste da Síria. É a segunda capital de província que o regime perde desde o início do conflito, há quatro anos”, noticia hoje a Euronews com mal disfarçado regozijo. Afinal a estratégia do Prémio Nobel da Paz, Obama, está a resultar: O inimigo principal, o malvado oftalmologista laico Assad, continua a ser perseguido para ver se tem um fim parecido com o de Kadaffi, outro malvado. O pretexto já não são armas químicas. Agora é o “estado Islâmico”, concorrente da Al-Qaeda,  que anda a dar muito nas vistas com as suas carnificinas mediáticas.

São estes os “rebeldes moderados”, que os EUA, EU e seus aliados apoiam sem reservas, com armas, munições, bombardeamentos, cobertura mediática e dinheiro. Afinal a Al-Qaeda nem é assim tão má! Se o fosse não estaria a ser apoiada em vários países, designadamente na Síria e na Líbia onde até decorrem negociações para um “governo de unidade”. No Yemen, onde a “Primavera Árabe” não está a correr a contento da Arábia Saudita, este indefectível aliado dos EUA não hesitou em invadir esse país, começando por bombardear massivamente as populações, como é tradicional, apoiando e apoiando-se em milícias da Al-Qaeda que no terreno combatem a rebelião Houthi.  A manifesta ilegalidade desta ação está agora a ser colmatada com um apoio arrancado à pressão na sempre prestável “Liga Árabe”. Entretanto, a chamada “comunidade internacional”, os EUA, a EU, os infatigáveis militantes anti terroristas, Obama, Cameron, Hollande, refugiam-se numa estranha neutralidade colaborante e vão alimentando a opinião pública com a amplas cerimónias de fervor anti terrorista…  Não faz tudo isto lembrar a história dos três porquinhos e do lobo-mau? Afinal, quem tem medo lobo mau, ou seja, quem leva a sério o terrorismo?



Daniel D. Dias

segunda-feira, 16 de março de 2015

Brasil



A América Latina foi até há pouco o “pátio traseiro” dos EUA*, onde tudo parecia estar ao serviço e sob controlo desta superpotência. Mas as coisas começaram a mudar nas últimas décadas: Uma nova consciência das pessoas e uma geração de líderes reformadores vieram tornar possível colocar os enormes recursos desta região ao serviço dos seus povos e não apenas ao serviço de classes muito reduzidas, como sempre aconteceu. Pode apontar-se que esta ação tem sido desenvolvida, em alguns casos, com alguma inépcia e noutros, de forma pouco clara. Ainda assim é inegável que as enormes desigualdades existentes diminuíram e que os resultados positivos em termos sociais são bem concretos: a fome, a doença, o analfabetismo e a miséria extrema, têm sido - pela primeira vez em 500 anos -, consistentemente combatidos.

Esta realidade configura um pecado mortal, uma ousadia jamais admitida, que os EUA e seus aliados sempre rejeitaram sem contemplações. É daqui que decorrem as sucessivas campanhas orientadas contra vários países da região – Argentina, Venezuela, Brasil, entre outros. As versões que os “media” espalham pelo mundo - é sabido que os EUA dominam os “media” mundiais – são parciais, preconceituosas, pseudo moralistas e destorcem os factos. Tem sido a forma habitual para preparar o terreno para ações mais musculadas – revoluções coloridas, primaveras árabes, etc. - como as que temos vindo a assistir no Médio Oriente, no Norte de África, nas vizinhanças da Rússia e da China.

As manifestações de ontem no Brasil fazem parte destas campanhas que em muitos aspetos lembram o Chile dos tempos de Allende antes do golpe de Pinochet. Havia por lá muita gente, nutrida e bem parecida, a bater tachos e até a reclamar o regresso da ditadura militar…

O vídeo que se segue ajuda a perceber de forma simples e bastante detalhe o que está agora em causa no Brasil. 

https://www.facebook.com/l.php?u=https%3A%2F%2Fwww.youtube.com%2Fwatch%3Fv%3DnOaff79Tpqg%26feature%3Dyoutu.be&h=EAQFNF9G3
Texto original em inglês
http://journal-neo.org/2014/11/18/brics-brazil-president-next-washington-target/

Daniel D. Dias

* “Há uma resistência muito significativa contra o assalto neoliberal. A mais importante verifica-se na América do Sul, é espectacular. Durante 500 anos, a América do Sul sofreu a dominação das potencias imperiais ocidentais, a última das quais os EUA. Mas nos últimos 10 ou 15 anos começou a romper com isso. Isto tem muita relevância. A América Latina foi um dos sócios mais leais dos consensos de Washington, das políticas oficiais.”
Noam Chomsky, in entrevista de Miguel Mora “Syriza y Podemos son la reacción al asalto neoliberal que aplasta a la periferia”, de 8 de fevereiro de 2015

http://ctxt.es/es/20150205/politica/286/%E2%80%9CSyriza-y-Podemos-son-la-reacci%C3%B3n-al-asalto-neoliberal-que-aplasta-a-la-periferia%E2%80%9D-Internacional.htm