sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Será desta?



Se o conhecimento fosse uma tendência genética, considerando os anos que a escrita tem de inventada, e já teríamos assistido a um ou outro ser humano nascer com os dedos transformados em aparos ou pincéis.

Mas não é isso que acontece. Pelo contrário, sabe-se que ainda vão nascendo alguns humanos com resquícios de cauda comprovando assim que ainda nos rondam atavismos simiescos. Todavia a maioria de nós – mesmo os mais pessimistas - está convicta de que o conhecimento, a cultura, a curiosidade intelectual, a cidadania, a solidariedade, são valores humanos adquiridos, que não retrocedem apesar das dificuldades que enfrentamos.

Mas não retrocederão mesmo?

Quando ouço cidadãos respeitáveis manifestarem o desejo de reimplantar a jorna – trabalho pago ao dia, para quem não sabe -, a fim de resolver os problemas de produtividade (a malta não quer é trabalhar, não é verdade?);
- quando vejo aceitar sem relutância o retorno à ideia de responder aos problemas sociais básicos através do assistencialismo medieval assente na caridade;
- quando assisto à interminável explicação de que OS MERCADOS são o “leitmotiv” de tudo - qual força da natureza ou divina providência -, fazendo crer que por detrás deles não há ninguém com quem se possa  falar a não ser para concordar e receber ordens;
- quando ouço anunciar a todo o momento, apelos, promessas, lutas, por uma sociedade MAIS justa… (Que diabo: a ideia duma sociedade humana, simplesmente, justa – sem o “mais” – é assim tão inviável?);
- quando vejo o povo, mais enfraquecido, mais incapaz de trabalhar em comum, mais dependente de carismas, mais carente de lideranças fortes, menos confiante e sem iniciativa;
- quando constato que os divertimentos preferidos dos mais carenciados e fracos são as peripécias da vida dos que vivem à sua conta e se dedicam a explorar a sua fraqueza;
- quando assisto ao renascimento de nacionalismos, xenofobias, práticas racistas, ideias que julgava extintas entre nós…

Fico na dúvida.

O retrocesso não será genético – também e felizmente - mas sei que não é inevitável. Esse é o problema e a história comprova-o. Apesar de tudo, teimo em acreditar que estas manifestações de retrocesso a que assistimos, são coisas temporárias, algo como uma tempestade, ou peste, que vão passar. Prefiro acreditar que as reservas de saúde e de bom senso, são superiores às manifestações de mediocridade e de doença que assolam a sociedade atual.

Por isso, vou intervindo menos, reservando-me para melhores dias, esperando sinais promissores... Será que é este ano que a malta acorda? Será desta?


Daniel D. Dias

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