Se o conhecimento fosse uma tendência genética, considerando os
anos que a escrita tem de inventada, e já teríamos assistido a um ou outro ser
humano nascer com os dedos transformados em aparos ou pincéis.
Mas não é isso que acontece. Pelo contrário, sabe-se que ainda vão
nascendo alguns humanos com resquícios de cauda comprovando assim que ainda nos
rondam atavismos simiescos. Todavia a maioria de nós – mesmo os mais
pessimistas - está convicta de que o conhecimento, a cultura, a curiosidade
intelectual, a cidadania, a solidariedade, são valores humanos adquiridos, que
não retrocedem apesar das dificuldades que enfrentamos.
Mas não retrocederão mesmo?
Quando ouço cidadãos respeitáveis manifestarem o desejo de
reimplantar a jorna – trabalho pago ao dia, para quem não sabe -, a fim de
resolver os problemas de produtividade (a malta não quer é trabalhar, não é
verdade?);
- quando vejo aceitar sem relutância o retorno à ideia de
responder aos problemas sociais básicos através do assistencialismo medieval
assente na caridade;
- quando assisto à interminável explicação de que OS MERCADOS são
o “leitmotiv” de tudo - qual força da natureza ou divina providência -, fazendo
crer que por detrás deles não há ninguém com quem se possa falar a não ser para concordar e receber
ordens;
- quando ouço anunciar a todo o momento, apelos, promessas, lutas,
por uma sociedade MAIS justa… (Que diabo: a ideia duma sociedade humana,
simplesmente, justa – sem o “mais” – é assim tão inviável?);
- quando vejo o povo, mais enfraquecido, mais incapaz de trabalhar
em comum, mais dependente de carismas, mais carente de lideranças fortes, menos
confiante e sem iniciativa;
- quando constato que os divertimentos preferidos dos mais
carenciados e fracos são as peripécias da vida dos que vivem à sua conta e se
dedicam a explorar a sua fraqueza;
- quando assisto ao renascimento de nacionalismos, xenofobias,
práticas racistas, ideias que julgava extintas entre nós…
Fico na dúvida.
O retrocesso não será genético – também e felizmente - mas sei que
não é inevitável. Esse é o problema e a história comprova-o. Apesar de tudo,
teimo em acreditar que estas manifestações de retrocesso a que assistimos, são
coisas temporárias, algo como uma tempestade, ou peste, que vão passar. Prefiro
acreditar que as reservas de saúde e de bom senso, são superiores às
manifestações de mediocridade e de doença que assolam a sociedade atual.
Por isso, vou intervindo menos, reservando-me para melhores dias,
esperando sinais promissores... Será que é este ano que a malta acorda? Será
desta?
Daniel D. Dias
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