O fascismo é a expressão mais extrema e
acabada da luta de classes. Este fenómeno está sempre latente, em menor ou
menor grau, nas sociedade divididas por interesses antagónicos como é o caso de
todas as conhecemos. Infelizmente décadas de progresso tecnológico e científico
não lograram implantar os dois factores capazes
de travar esta doença social: a distribuição mais equitativa da riqueza gerada
na sociedade, (facto que se manifesta vulgarmente na expansão da chamada classe
média – as sociedades mais evoluídas têm uma classe média esmagadoramente
maioritária), e a universalidade da educação pública de qualidade. Estes dois
factores estão interligados e são interdependentes. O pecado original da nossa
sociedade - que não se cansa de apelar à necessidade de sermos mais competitivos – é não cuidar de assegurar
- À PARTIDA - as condições básicas para concretizar esse potencial. Sem “paz,
pão, educação, habitação” e estabilidade
garantidos, pelo menos ATÉ À MAIORIDADE A TODOS OS CIDADÃOS – e não apenas a alguns
-, toda a competividade exibida não passa dum jogo viciado. Os mais aptos que
acabam por ter sucesso, ou são fenómenos da natureza, ou tiveram algum tipo de
vantagens que lhes permitiu ir mais longe. Mas a sociedade no seu todo, perde e
perde muito.
O fascismo, nas suas múltiplas
manifestações, (não se espere que os fascistas do seculo XXI se apresentem com
indumentárias e discursos mussolinianos), resulta sempre dum excesso de pressão
no equilíbrio social. É comum o fenómeno começar por uma reação excessiva das
classes privilegiadas que sentem ameaçados os seus privilégios: Ou porque se
lhes afigura que as classes subalternas lhe parecem pôr em causa os seus
interesses, ou porque temem a ruina resultante duma concorrência descontrolada.
Mas a receita completa envolve os “media”
(que elas próprias controlam) e outras
organizações de massas – certos partidos, organizações “religiosas” - que
espalham o pânico e logram mesmo associar a este descontentamento – muitas vezes
artificialmente empolado e induzido – as classes atingidas pela penúria:
desempregados, gente forçada à marginalidade, revoltados e descontentes.
É porém importante que se sublinhe que o fascismo só é bem
sucedido quando a ignorância política é dominante, e o povo – na sua grande
massa – se apresenta desmobilizado, ou, ainda pior, dividido. É bom não
esquecer que hoje em dia prolifera uma indústria do entretenimento e uma
máquina de moldar opiniões, baseada na diversão e nos “media”…
A III Guerra Mundial – como (bem) dizia
o Papa Francisco, há muito está em marcha. Ela ocorre em muitos pontos do mundo
- exatamente neste momento -, mas parece que só uma pequena parte da humanidade
entende, e se preocupa com o que se está a passar. Esta apatia ou mesmo
indiferença é muito preocupante. Parece que ninguém percebe as ligações que
existem entre determinados interesses – e políticas - ocidentais e as terríveis
guerras que estão a ser incrementadas no Médio Oriente, na África e em certas
zonas da Europa. O Estado Islâmico é apenas uma manifestação desse fascismo que
avança… e que tem aliados. Alguns que até dizem combate-lo…
Mas nas Américas o fascismo também
ameaça. No Sul – sob pretextos legalistas – uma a uma todas as democracias
progressistas, as primeiras bem sucedidas em 500 anos! - estão sob séria ameaça.
O desemprego, a miséria e a violência já são visíveis no horizonte. E o grande vizinho
do norte, agora em maré de eleições – mostra uma vez mais o seu perfil
tenebroso.
Que fazer? Creio, antes de mais, que é preciso tomar
consciência do que se está a passar. É preciso passar a observar com muita
atenção e criticamente, toda a informação que vai chegando. Construindo uma
visão clara, cada um de nós pode ajudar a esclarecer terceiras pessoas,
especialmente aquelas que perdem muito com este clima de retrocesso. É também
importante não reagir apenas com estados de ânimo. As emoções podem ser reações
plenamente justificadas mas toldam frequentemente os raciocínio serenos, os que
geram as decisões mais acertadas.
As ameaças são muitas mas creio que as
forças da liberdade e do progresso acabarão por se tornar dominantes. No
entanto só uma maioria de consciências cívicas, clarividentes e convictas, poderá obviar a muito sofrimento inútil. Faço
votos para que as pessoas de boa vontade, de espírito livre, saudável e
abnegado, tenham ânimo que baste para travar esta luta.
Daniel D. Dias