domingo, 8 de maio de 2016

A ameaça fascista



O fascismo é a expressão mais extrema e acabada da luta de classes. Este fenómeno está sempre latente, em menor ou menor grau, nas sociedade divididas por interesses antagónicos como é o caso de todas as conhecemos. Infelizmente décadas de progresso tecnológico e científico não lograram implantar os dois factores  capazes de travar esta doença social: a distribuição mais equitativa da riqueza gerada na sociedade, (facto que se manifesta vulgarmente na expansão da chamada classe média – as sociedades mais evoluídas têm uma classe média esmagadoramente maioritária), e a universalidade da educação pública de qualidade. Estes dois factores estão interligados e são interdependentes. O pecado original da nossa sociedade - que não se cansa de apelar à necessidade de  sermos mais competitivos – é não cuidar de assegurar - À PARTIDA - as condições básicas para concretizar esse potencial. Sem “paz, pão, educação, habitação” e  estabilidade garantidos, pelo menos ATÉ À MAIORIDADE A TODOS OS CIDADÃOS – e não apenas a alguns -, toda a competividade exibida não passa dum jogo viciado. Os mais aptos que acabam por ter sucesso, ou são fenómenos da natureza, ou tiveram algum tipo de vantagens que lhes permitiu ir mais longe. Mas a sociedade no seu todo, perde e perde muito.

O fascismo, nas suas múltiplas manifestações, (não se espere que os fascistas do seculo XXI se apresentem com indumentárias e discursos mussolinianos), resulta sempre dum excesso de pressão no equilíbrio social. É comum o fenómeno começar por uma reação excessiva das classes privilegiadas que sentem ameaçados os seus privilégios: Ou porque se lhes afigura que as classes subalternas lhe parecem pôr em causa os seus interesses, ou porque temem a ruina resultante duma concorrência descontrolada.  Mas a receita completa envolve os “media” (que elas próprias controlam)  e outras organizações de massas – certos partidos, organizações “religiosas” - que espalham o pânico e logram mesmo associar a este descontentamento – muitas vezes artificialmente empolado e induzido – as classes atingidas pela penúria: desempregados, gente forçada à marginalidade, revoltados e descontentes.

É porém  importante  que se sublinhe que o fascismo só é bem sucedido quando a ignorância política é dominante, e o povo – na sua grande massa – se apresenta desmobilizado, ou, ainda pior, dividido. É bom não esquecer que hoje em dia prolifera uma indústria do entretenimento e uma máquina de moldar opiniões, baseada na diversão e nos “media”…

A III Guerra Mundial – como (bem) dizia o Papa Francisco, há muito está em marcha. Ela ocorre em muitos pontos do mundo - exatamente neste momento -, mas parece que só uma pequena parte da humanidade entende, e se preocupa com o que se está a passar. Esta apatia ou mesmo indiferença é muito preocupante. Parece que ninguém percebe as ligações que existem entre determinados interesses – e políticas - ocidentais e as terríveis guerras que estão a ser incrementadas no Médio Oriente, na África e em certas zonas da Europa. O Estado Islâmico é apenas uma manifestação desse fascismo que avança… e que tem aliados. Alguns que até dizem combate-lo…

Mas nas Américas o fascismo também ameaça. No Sul – sob pretextos legalistas – uma a uma todas as democracias progressistas, as primeiras bem sucedidas em 500 anos! - estão sob séria ameaça. O desemprego, a miséria e a violência já são visíveis no horizonte. E o grande vizinho do norte, agora em maré de eleições – mostra uma vez mais o seu perfil tenebroso.

Que fazer?  Creio, antes de mais, que é preciso tomar consciência do que se está a passar. É preciso passar a observar com muita atenção e criticamente, toda a informação que vai chegando. Construindo uma visão clara, cada um de nós pode ajudar a esclarecer terceiras pessoas, especialmente aquelas que perdem muito com este clima de retrocesso. É também importante não reagir apenas com estados de ânimo. As emoções podem ser reações plenamente justificadas mas toldam frequentemente os raciocínio serenos, os que geram as decisões mais acertadas.

As ameaças são muitas mas creio que as forças da liberdade e do progresso acabarão por se tornar dominantes. No entanto só uma maioria de consciências cívicas, clarividentes e convictas,  poderá obviar a muito sofrimento inútil.   Faço votos para que as pessoas de boa vontade, de espírito livre, saudável e abnegado, tenham ânimo que baste para travar esta luta.


Daniel D. Dias


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