quarta-feira, 29 de janeiro de 2014
Processo Casa Pia e as imundices dos "violados" que não se lembram como foram violados e por quem...
Processo Casa Pia e as imundices dos "violados" que não se lembram como foram violados e por quem...
"Pedro Namora alegou ter sofrido "ameaças, perseguições e tentativas de difamação" pela sua intervenção a favor das vítimas de abusos sexuais na Casa Pia de Lisboa, referindo que "os maiores ataques que sofreu pertenceram ao arguido Carlos Cruz (apresentador de televisão) e ao ex-arguido Paulo Pedroso".
Mas continua a Relação:
"O acórdão do TRL agora proferido sublinha ainda que o despacho de não pronúncia de Paulo Pedroso foi mantido na Relação "não por se ter logrado demonstrar que o mesmo estava inocente, o que não se demonstrou, mas sim por não se ter logrado obter indícios suficientes que o mesmo era responsável pela prática dos actos que lhe foram imputados", ou seja "não têm o valor de declaração de absoluta inocentação" deste".
Por outras palavras, o Paulo Pedroso era culpado até provar que era inocente. A presunção de inocência que se lixasse.
"Namora afirmou ter sido avisado por uma jornalista para "se pôr a pau" quando Paulo Pedroso foi incluído no processo".
Ressonância da estupidez Judicial e dos meninos do Parque Mayer
sexta-feira, 24 de janeiro de 2014
Fábula
O redil está preparado, os maiorais estão por aí, cantando, assobiando,
para encantar o rebanho. As ovelhas seguem tosquiadas, a tiritar, mas balem
conformadas: Agora, há menos invejas, fazem parte dum rebanho maior, magricela
é certo, mas onde há sempre alguma ovelha disponível para ouvir balidos
inconformados. “Qualquer dia… qualquer dia…” Alertam alguns ovinos, que fazem
questão de salvaguardar a esperança. E de facto muitos continuam sonhando com
pastagem viçosas onde a erva fresca nunca falta. Porém continuam retouçando
cardais, dia para dia mais tísicos, ao som do chocalhar de baladas pastorais de
tempos bíblicos.
O rebanho está cansado, farto de balir em vão. Resigna-se: Sempre
foi assim. Os maiorais acabam sempre dominando. Há que aguentar. Mas, na sua inconformidade,
vai-se consolando com pequenas coisas - tricas do quotidiano, rezas, lendas de
ovelhas que venceram o pastor tirano, mitos do pastor amigo, ovelhas ronhosas
que minam o rebanho… Como sempre fez aliás: É preciso ter esperança pois que não
há fome que não dê em fartura. E há por aí muito rebanho a passar pior que o
nosso…
Os pastores atuais são sábios. Discípulos de Skinner e Bernays sabem
que o segredo está na modulação. Ovino, rato ou humano, todos são
condicionáveis, susceptíveis de domesticar. No caso do bicho humano não há
complicação de maior: Basta que se lhe alimentem as fantasias e que nunca se
deixe contaminar pelo silêncio próprio da sua mente. Este silêncio próprio -
que é o que permite pensar por si mesmo - constitui a peste mais nociva. Equivalente
à “peste suína”, nos porcinos, ou à “doença das vacas loucas”, nos bovinos.
Mas os pastores confiam na sua técnica: sabem que enquanto
alimentarem o ruído na cabeça das suas ovelhas elas permanecerão disponíveis
para obedecer e os efeitos dessa peste serão mínimos e passageiros. Mesmo que
se revoltem, mesmo que fujam, acabarão por regressar ao redil por si só. Foram
habituadas de pequenas a seguir chocalhos, identificam-se como ovelhas, têm
roupagem, hábitos, nomes, tradições, chips, de ovelha. Como podem conceber um
mundo sem redis, que não seja dominado por pastores?
Daniel D. Dias
sexta-feira, 17 de janeiro de 2014
Desfazendo dúvidas
Sócrates é o álibi
perfeito para a espúria confluência política que instalou no poder esta maioria
que veio destruir, sabe-se lá por quantos anos, a economia portuguesa. Por isso
deve continuar a ser atacado para justificar a escabrosa ação desta
maioria da qual o povo português está
ainda longe de se ver livre. Quem estiver atento facilmente perceberá que está
em marcha em toda a Comunicação Social um plano de reabilitação das políticas
desta governação que ainda não desistiu dos seus intentos. O ressurgimento da
projetada privatização da TAP mostra que esta seita que “governa” o país ainda
não desistiu e que até está a ganhar novo fôlego. Por isso continua a ser necessário
denegrir Sócrates seja de que forma for, e mentir, afirmando que há
crescimento, que há sinais de retoma, etc. Pudera: quando se atingem níveis
históricos de miserabilismo, qualquer cêntimo encontrado no fundo do bolso,
qualquer alface que nasça no quintal semeada pelo vento, podem influenciar o
crescimento do PIB…
Mas agora já só continua
iludido quem quiser continuar. Através da retardada e provavelmente cénica comissão nomeada pelo Parlamento Europeu “para investigar a
acção da ‘troika’ nos países resgatados”, ficam a saber-se coisas que esclarecem quaisquer dúvidas que restem sobre a
génese da atual situação. O comissário Olli Rehn, por
exemplo, esta segunda feira, negou perentoriamente que os cortes nas pensões e
as privatizações da EDP e da REN tivessem sido impostos pelos credores
internacionais a Portugal e imputou
essas decisões à exclusiva iniciativa e responsabilidade do atual governo
http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=QYQ4HwQDJ9w.
Na terça feira o antigo presidente do Banco Central Europeu
(BCE), Jean-Claude Trichet, também defendeu que “se
Portugal e a Grécia tivessem cumprido as recomendações feitas no Pacto de
Estabilidade e Crescimento (PEC) teriam evitado muitos problemas, nomeadamente
os programas de regaste” http://rr.sapo.pt/informacao_detalhe.aspx?fid=24&did=135669#.UtW2slVv7iE.facebook. Naturalmente Trichet referia-se
ao célebre PEC IV de 2011, cujas metas então acordadas com a Comissão, pedia que
fossem confirmadas (pelo parlamento) http://www.jornaldenegocios.pt/economia/detalhe/trichet_eacute_essencial_que_portugal_confirme_metas_do_pec.html.
Como é sabido o PEC IV ao ser chumbado
pela histórica confluência do PSD, CDS, BE e PCP, fez cair o anterior executivo
criando condições para a ascensão ao poder da atual maioria.
E assim se vai,
paulatinamente, descobrindo a verdade e desfazendo dúvidas. (Vale a pena
ler/ouvir com atenção os depoimentos referidos). Mas, ainda assim, restarão
sempre duas:
Quando termina esta
desgovernança e como vão ser corrigidas as sequelas que vamos herdar; o que terá
entretanto aprendido o povo nesta provação.
Daniel D. Dias
quinta-feira, 9 de janeiro de 2014
O espetáculo não pode parar...
É apenas uma impressão,
nada de muito fundamentado, mas estou com o pressentimento de que está em
preparação uma mudança de ciclo em termos europeus porventura com pretensões de
influenciar o mundo. Os juros baixam por todo o lado, o desemprego desce, o crescimento
económico é revisto em alta, as agências de “rating” desvanecem-se em
prognósticos favoráveis e elogios, arrumam-se acordos à pressão, ensaiam-se
“transparências” inesperadas, anunciam-se indicadores positivos à fartazana…
Sintomático é também as liliputianas figuras do microcosmo português, se
agitarem, se esticarem nas pontas dos pés e perorarem intermináveis loas
bacocas que encontram eco nos nossos prestimosos “me(r)dia” …
Ou muito me engano ou já
está em preparação um primeiro teste dessa mudança: As eleições europeias de
maio próximo. O espetáculo não pode parar mas é preciso afastar uma previsível
pateada monumental. Para começar tratar-se-á duma mudança de cenário e
adereços, com retoques nas falas, nada de grande coisa. Entrarão em cena, claro
está, alguns novos atores para refrescar o espetáculo. Tratar-se-á duma mudança
para não mudar nada, ou, dito de outra forma, duma mudança que assegure que o
essencial não mudará.
Já lá dizia Lampedusa:
“Para que as coisas fiquem iguais é preciso que tudo mude”. Cá por mim vou
tratar de reservar um lugar. Receio que a lotação se esgote.
Daniel D. Dias
segunda-feira, 6 de janeiro de 2014
O "do" de Eusébio
O conceito de “do” universalmente presente na cultura japonesa por influência da tradição budista veiculada da antiga Índia, via China, ajuda, em meu entender, a perceber melhor o sentido da vida das pessoas. No ocidente tem proliferado a ideia de “carreira” com conotação semelhante à de “do” mas “carreira” fica muito aquém da riqueza semântica de “do”.
“Do” – literalmente “caminho”, “via” – tem pressuposto uma determinada ordem cósmica que encerra o sentido de todas as coisas e que está acessível a todos os seres através dele. Mas onde encontrar esse “caminho”? A resposta é: em todo lado, em qualquer coisa. A figura do círculo que em qualquer ponto se pode começar a percorrer, é a representação mais paradigmática que conheço.
Há caminhos mais burilados para procurar a harmonia com essa ordem cósmica, criados e trabalhados por mestres, famosos ou anónimos, ao longo de gerações. São famosas as chamadas artes marciais, todas elas contendo a partícula “do” no seu nome: KarateDO, juDO, AikiDO, mas também o ChaDO (“cerimónia do chá” ou “caminho do chá”) BushiDO (“o caminho do guerreiro”) Ikebana ou KaDO (“arranjo de flores” ou “caminho das flores”)…
A ideia fundamental a reter é a de que qualquer atividade - artística, científica, profissional, desportiva -, pode constituir um “do”. Claro que também pode constituir uma “carreira” mas a ideia de carreira não tem implícita a ideia de abranger o cosmos, de atingir o auto conhecimento, de ganhar o “dom de si” que trilhar um “do” pressupõe.
Vem este preâmbulo a propósito de Eusébio que acaba de nos deixar. Para mim ele é a demonstração perfeita de que o futebol e a sua prática, podem também ser uma via de aperfeiçoamento, de superação das nossas insuficiências, uma forma de integração nesse enigmático universo onde navega a humanidade.
Claro que o futebol pode ser uma feira de vaidades, uma carreira que enriquece alguns, um espetáculo que pode ter contornos alienantes que alguns aproveitam. Mas também pode ser um campo de virtudes e um método de aperfeiçoamento. Em rigor: também pode ser um “do” - um “futebolDO”. E, para que não haja dúvidas, mestre Eusébio – prefiro mestre a rei - está aí, com o seu exemplo de vida e de grande artista que foi.
Em sua memória deixo aqui este Haikai de Sigrid Spolzino que me parece apropriado ao momento
“Folhas caindo
lágrimas de inverno
temporárias”
Daniel D. Dias
sexta-feira, 3 de janeiro de 2014
Será desta?
Se o conhecimento fosse uma tendência genética, considerando os
anos que a escrita tem de inventada, e já teríamos assistido a um ou outro ser
humano nascer com os dedos transformados em aparos ou pincéis.
Mas não é isso que acontece. Pelo contrário, sabe-se que ainda vão
nascendo alguns humanos com resquícios de cauda comprovando assim que ainda nos
rondam atavismos simiescos. Todavia a maioria de nós – mesmo os mais
pessimistas - está convicta de que o conhecimento, a cultura, a curiosidade
intelectual, a cidadania, a solidariedade, são valores humanos adquiridos, que
não retrocedem apesar das dificuldades que enfrentamos.
Mas não retrocederão mesmo?
Quando ouço cidadãos respeitáveis manifestarem o desejo de
reimplantar a jorna – trabalho pago ao dia, para quem não sabe -, a fim de
resolver os problemas de produtividade (a malta não quer é trabalhar, não é
verdade?);
- quando vejo aceitar sem relutância o retorno à ideia de
responder aos problemas sociais básicos através do assistencialismo medieval
assente na caridade;
- quando assisto à interminável explicação de que OS MERCADOS são
o “leitmotiv” de tudo - qual força da natureza ou divina providência -, fazendo
crer que por detrás deles não há ninguém com quem se possa falar a não ser para concordar e receber
ordens;
- quando ouço anunciar a todo o momento, apelos, promessas, lutas,
por uma sociedade MAIS justa… (Que diabo: a ideia duma sociedade humana,
simplesmente, justa – sem o “mais” – é assim tão inviável?);
- quando vejo o povo, mais enfraquecido, mais incapaz de trabalhar
em comum, mais dependente de carismas, mais carente de lideranças fortes, menos
confiante e sem iniciativa;
- quando constato que os divertimentos preferidos dos mais
carenciados e fracos são as peripécias da vida dos que vivem à sua conta e se
dedicam a explorar a sua fraqueza;
- quando assisto ao renascimento de nacionalismos, xenofobias,
práticas racistas, ideias que julgava extintas entre nós…
Fico na dúvida.
O retrocesso não será genético – também e felizmente - mas sei que
não é inevitável. Esse é o problema e a história comprova-o. Apesar de tudo,
teimo em acreditar que estas manifestações de retrocesso a que assistimos, são
coisas temporárias, algo como uma tempestade, ou peste, que vão passar. Prefiro
acreditar que as reservas de saúde e de bom senso, são superiores às
manifestações de mediocridade e de doença que assolam a sociedade atual.
Por isso, vou intervindo menos, reservando-me para melhores dias,
esperando sinais promissores... Será que é este ano que a malta acorda? Será
desta?
Daniel D. Dias
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